BRANCA DE NEVE: CONTOS CLÁSSICOS – ALEXANRE CALLARI

Sinopse: Branca de Neve e os Sete Anões não é uma história criada pela Disney, que adaptou o conto de fadas dos irmãos Grimm e produziu o longa-metragem infantil de maior sucesso da história.

Originalmente um conto adulto do folclore oral europeu, Branca de Neve remonta séculos de tradição, mesmo antes de os irmãos Grimm a registrarem pela primeira vez. Versões magníficas da história, que impressionam pela inventividade, lirismo e crueza, nos trasem o modo de pensar de diferentes povos e épocas, correndo a Europa desde o século XVI. Fugindo ocasionalmente das formas livres às quais pertenciam, apareceram na literatura em diversas ocasiões. Seis dessas versões, inéditas em português, são neste livro traduzidas e comentadas pelo professor Alexandre Callari, também autor de “Mundo dos espelhos: lobos, sangue e neve”, conto escrito especialmente para esta publicação. Branca de Neve: os contos clássicos traz ainda um rico caderno ilustrado, contando em detalhes a trajetória da personagem na cultura contemporânea, com destaque para adaptações cinematográfias, animações e pastiches.
A Pequena Branca de Neve (Irmãos Grimm)
Resumo: O primeiro conto apresentado é o dos Irmãos Grimm, o que inspirou e deu origem ao clássico da Disney que todos conhecemos. Branca de Neve nasce da rainha após esta desejar uma filha tão branca quanto a neve que cai do lado de fora do castelo. Porém, quando a menina nasce, a rainha morre e, pouco tempo depois, o rei vem a se casar novamente. A madrasta de Branca de Neve possui um espelho mágico, a quem consulta sempre para ter seu ego amaciado e receber como resposta que é a mais bela de todo o reino. Porém, quando Branca de Neve cresce, a jovem se torna a mais bela e, enfurecida, a rainha pede ao caçador que mate a menina e lhe traga seus pulmões e fígado. Porém, o caçador não consegue o fazer e leva para a rainha os orgãos de um veado, que ela cozinha e come.
Fugindo pela mata, Branca de Neve encontra a casa dos sete anões e, após um acordo com eles de ficar e cuidar da casa em troca de abrigo, ela se torna uma de suas irmãs. Mas a rainha ao descobrir começa a tentar contra a vida da jovem. No fim, quando a rainha leva uma maçã envenenada para a jovem e ela desfalece, os anões a colocam em um caixão de vidro e, passando por lá, o príncipe a vê e se encanta. Após despertá-la, eles se casam e, no dia do casamento, quando a rainha vai à cerimônia, ela não só constata que falhou, como também recebe seu castigo.
Opinião: Sempre quis ler a história da Branca de Neve pelas palavras dos irmãos Grimm, porque sempre falaram muito. Ao ter a oportunidade, percebi que são poucas as mudanças para o clássico da Disney, mas ainda assim, fundamentais. O fato de a Madrasta não ser uma bruxa é a principal. Vemos ela se disfarçar, mas nunca é mencionado nada mágico que não o espelho. Outra coisa é o fato de as atitudes da Madrasta não passarem em branco, ela recebe um castigo por tudo o que faz.
Porém, aqui, o pai de Branca de neve só é mencionado ao dizer que ele casa novamente. Tudo acontece com a filha e ele é esquecido, o que mostra que não se importa. Uma experiência muito boa, especialmente por ser um conto escrito em 1857.

A Jovem Escrava (Giambattista Basile)

Resumo: Branca de Neve é Lisa neste conto. Sua mãe é irmã do Barão e, quando jovem, come uma pétala de uma rosa branca e engravida. Quando a criança nasce, as fadas lhe abençoam, porém, uma delas, ao correr para ver a criança, escorregou e torceu o pé e, com raiva, lançou uma maldição de que quando a menina completasse sete anos, ao ter os cabelos escovados pela mãe, esta esqueceria o objeto e a jovem iria morrer. Isso então acontece e a mãe da menina a coloca em sete caixões e a tranca em um quarto vazio do castelo. Após anos, a mãe da menina adoece e, antes de falecer, entrega a chave ao irmão, pedindo que ele nunca abra o quarto. O homem acata a vontade de sua irmã, mas ao sair para uma missão, sua esposa decide entrar no quarto tão proibido e encontra não só os caixões – um dentro do outro – como também descobre Lisa dentro deles, já crescida. A mulher desperta a menina ao retirar o pente que a mãe usava para pentear seus cabelos. Tomada pelo ciúme, a Baronesa pensa que a jovem é uma amante de seu marido e a trata como escrava. Porém, certo dia, o Barão vê a menina conversando com uma boneca, contando sua história e, descobre, assim, que ela é sua sobrinha. A Baronesa, depois de tudo, recebe seu castigo.
Opinião: Escrita em 1634, esta é a primeira história de Branca de Neve registrada. Porém, acredita-se que dela tenha tido origem, também, a história de “A Bela Adormecida”. Quando li logo lembrei de ambos os contos e fiquei realmente confusa. Não foi uma história que me convenceu, apesar de existir magia nessa história. Porém, foi uma leitura enriquecedora.

Árvore-Dourada e Árvore-Prateada (Joseph Jacobs)

Resumo: Árvore-Dourada é Branca de Neve, filha de Árvore-Prateada e do rei. Ela é uma menina amada, porém, ao tornar-se um jovem, a mãe se sente ameaça pela beleza da filha, que utrapassa a sua. O rei então decide casar a filha, ao descobrir que a esposa deseja comer os pulmões e o coração da filha. A menina vai morar longe e, ao descobrir aquilo, a mãe parte em direção ao reino para dar fim a sua vida. Com uma agulha envenenada, ela faz a menina desfalecer e, o marido dela, pensando que a esposa está morta, a coloca em um quarto e se casa novamente. É a segunda esposa do principe que encontra “Árvore-Dourada” e, tirando a agulha de seu dedo, a desperta. Também é essa mulher que defende a outra da mãe, que retorna para ter sua vingança.
Opinião: Escrito em 1892, este é um dos contos mais diferentes e um dos que eu menos esperava ver. Aqui não existe madrasta ou tia. A antagonista é a própria mãe que sente inveja da beleza da filha e tenta, não só matá-la, como comer seus órgãos. Os homens da história não posssuem atitude, pois o rei não impede a esposa de ir atrás da filha em outro reino e o príncipe também não tenta salvá-la. Aqui ele também possui duas esposas, a que pensou estar morta e a que se casou depois disso, o que mostra um pouco da cultura que dominava o local na época. Também foi possível detectar algumas características com “A Bela Adormecida” neste conto, o que prova que os contos antigamente, orais, são a origem dos que conhecemos hoje.
Maria, A Madrasta Má e os Sete Ladrões (Laura Gonzenbach)
Resumo: Neste conto, escrito em 1870, Branca de Neve é Maria. Ela perde a mãe quando é muito nova e sua madrasta é sua antiga professora de costura e bordado. Porém, ao casar com seu pai, a mulher se transforma, mostrando não gostar da menina. Em determinado dia, a mulher pede ao marido (e pai da menina) que a leve para a floresta e a deixe lá, o que ele fez sem pestanejar. Porém, Maria marca o caminho com pães e consegue voltar. Algum tempo depois, ele faz o mesmo e, sem ter com o que marcar seu caminho, a menina fica perdida. Ela então vai parar em uma casa habitada por sete homens, que são tidos na história como ladrões. Uma velha a quem Maria ajuda é que relata à madrasta que a menina está viva e é ela, a pedido da mulher, que envenena a jovem. Os homens a colocam em um caixão e é assim que o príncipe a encontra, a despertando ao retirar o objeto envenenado da jovem e se casando com ela.
Opinião: Eu estava convencida que veria histórias de princesas entrelaçadas, mas não esperava ver João e Maria também aqui. O pai abandonando a filha e ela voltando com o caminho de pães é inconfundível! E eu fiquei me perguntando quantas histórias não se entrelaçaram nas histórias orais há tantos anos atrás. Outra diferença gritante é que não temos anões aqui, mas homens comuns tidos como ladrões, mas que acolhem a menina com muito carinho, como uma irmã. O final feliz é sempre esperado, mas me decepcionei em ver que a madrasta não apareceu mais (será que ela pensou que a menina morreu mesmo?).

O Caixão de Cristal (Thomas Frederick Crane)

Resumo: Neste conto Branca de Neve se chama Ermellinda e ela quem apresenta a madrasta ao pai. Só que a muher, após se casar, deseja a morte da menina. Certo dia, enquanto chorava por conta de seu azar, a jovem é visitada por uma águia, que aqui é um ser mágico, e levada por ela para o castelo de três fadas, onde é acolhida com carinho. A madrasta, porém, ao descobrir o que aconteceu, vai atrás de uma bruxa e, por um acordo, a faz ir atrás da menina para matá-la. A líder das fadas salva a menina, mas a avisa que se acontecer novamente, ela não poderá o fazer. E é o que acontece. Com muita dor no coração, as fadas então colocam Ermellinda dentro de um caixão e sobre um cavalo, que não pára até que a pessoa que o deseja diga determinadas palavras. Quando isso acontece, encantado, o rei leva a jovem no caixão para seu castelo e a mantém em um quarto. As servas do rei, quando ele está em viagem, vão cuidar da menina e, ao trocar seu vestido, o “presente” da bruxa, a desperta.
Opinião: O conto escrito em 1885 foi um dos que eu menos gostei. Isso porque a história não só possui muitos elementos difíceis de aceitar, apesar da magia, como também não possui muitas informações do que acontece com as personagens que são próximas da jovem. Também pude notar muita semelhança com “A Bela Adormecida” novamente.

A Morte dos Sete Anões (Ernst Ludig Rochholz)

Resumo: Neste conto, escrito em 1856, não temos nem rei, nem madrasta. A história parte do momento em que uma jovem camponesa chega até a casa de sete anões, pedindo abrigo. Eles a acolhem de bom grado e ela passa a morar com eles até o dia em que um velha senhora aparece também pedindo abrigo. A camponesa nega, dizendo não haver mais lugares na casa e a mulher, com raiva, vai embora, espalhando que existia um lugar onde sete homens estavam com uma só mulher. Ela leva então outros homens ao lugar, e estes matam os sete anões. Quanto a camponesa, não se sabe o que foi feito dela.
Opinião: Se o conto de Ermellinda não foi um dos meus favoritos, esse foi o que eu menos gostei. Não por ter morte, mas porque ele foi usado unicamente para doutrinar as pessoas da época. A mensagem por trás dele é muito clara, mas a forma como foi feita não me agradou, apesar de ser um conto originalmente oral.

A Fábula da Princesa Morta e os Sete Cavaleiros (Alexander Pushkin)

Resumo: Fábula escrita em 1833, conta a históroa da filha do Tsar, aqui a jovem Branca de Neve, nasceu e logo perdeu sua mãe. O rei ficou arrasado, mas após algum tempo se casou novamente. A nova Tsarissa possui um globo, o espelho mágico, com quem conversa e pergunta todos os dias se é mesmo a mais bela. Quando o globo a responde ser a enteada, a mulher manda que sua aia leve a menina para a floresta e a amarrase para que os lobos a comessem. A aia, porém deixa a menina livre para fugir e ela acaba encontrando a casa de sete cavaleiros. Uma jovem mendiga aparece então na casa onde a jovem vive e lhe dá uma maçã envenenada. Mas a princesa era prometida e, quando soube de seu sumiço, o noivo partiu em sua busca. Os sete cavaleiros a levaram para um lugar onde seu corpo se manteria preservado dentro do caixão e após muito procurar o príncipe a encontra.
Opinião: Este conto se parece muito com o clássico, mantendo quase todos os mesmos elementos, mas com uma diferença que me agradou bem mais: o príncipe já era o noivo de Branca de Neve e estava a sua procura. Sempre me incomodei com o fato de um desconhecido decidir de casar com alguém desacordado. Outra diferença é que a narrativa é feita através de versos, mantendo o ritmo da narração falada, pois esse se assemelha bem mais à oralidade. Depois do conto dos Irmãos Grimm, este foi o que mais me cativou.

Mundo dos Espelhos: Lobos, Sangue e Neve (Alexandre Callari)

Resumo: Neste conto original, conheceremos uma mistura muito bem feita e verossímil dos contos apresentados. Não há magia neste mundo que se apresenta, mas poderia haver ao que dependesse da mente da madrasta de Branca de Neve. Ela é um mulher vaidosa e egocêntrica. Não aceita o fato da enteada vir morar com ela e o marido, especialmente porque o homem ainda idolatra sua ex-mulher, que morreu quando a filha era um bebê.
A Madrasta não tem um espelho mágico, mas em sua mente ela cria respostas para as perguntas que faz ao espelho. Quando ela vê Branca de Neve novamente, pois a última tinha sido quando ela era uma menina e saiu para estudar etiqueta, se sente ameaçada pela beleza da jovem.
O caçador, muito conhecido e honrado, é então chamado para fazer um serviço para a Madrasta. O homem reluta, mas após ter a vida de sua filha ameaçada, ele aceita o trabalho. Mas para isso, o momento esperado é programado. A madrasta e o pai de Branca de Neve saem para um reino vizinho, enquanto o caçador leva a menina para a floresta. Ao não conseguir matá-la, ele a deixa fugir, indicando um caminho para longe do reino e volta, levando consigo órgãos de animais que caçou. A madrasta faz então o cozinheiro fazer aqueles órgãos para o jantar e come. Após o jantar, ela envenena o marido e toma para si o trono.
Enquanto isso, Branca de Neve recebe abrigo na casa de sete mineradores, que após relutarem, a tratam como irmã e dona da casa. Ela conhece um novo modo de viver e ganha amor e carinho por cada um deles.
Porém, a madrasta não é uma pessoa confiável. Após conseguir ser a soberana de seu reino, ela sente fala do que sentiu ao matar o marido e, assim, uma era de horror, tortura e muitas mortes começam.
A única esperança é Branca de Neve retornar e tomar o reino. E a única pessoa que é capaz de trazê-la, é o caçador, o único homem que sabe onde a menina está. Mas se ele assim o fizer, sua família passa a correr perigo de vida. O que é o correto a se fazer, deixar um reino em trevas ou colocar a vida de seus amados em perigo? Essa é uma decisão que ele precisará fazer. E Branca de Neve também.

Opinião: Sem dúvidas, esse foi um dos contos mais verossímil e que me prendeu de Branca de Neve que eu já li. Não há magia nesse mundo, então a história pode ter acontecido durante a idade média, onde as coisas já eram naturalmente mais obscuras, ou mesmo em uma época em que a tecnologia não existia.

É muito interessante acompanhar as referências dos contos de fadas no meio da loucura da madrasta e até da relação, mesmo que não muito explorada, de Branca com os mineradores (que não são anões). Todos os elementos do conto, clássico, estão presentes, mas de uma forma muito mais crível e até mesmo mais “dark”, o que deixou o conto muito mais atrativo pra mim.

Gostei muito também do fato de Branca de Neve aparentar ser uma “princesa” que precisa ser salva, e realmente o ser durante um tempo, mas que precisa e descobre sua força quando o momento certo chega. Ela então se torna como a princesa de “Branca de Neve e o Caçador”, uma mulher que representa a mulher de hoje, forte e que age, pois ela sabe a força que possui e o que pode fazer por si e por seu povo.

Essa reviravolta de enredo foi o que mais me encantou (depois da história da madrasta) e, especialmente por ele, eu recomendo a leitura para todos que querem uma história diferente de Branca de Neve. Ela é capaz de conquistar até os “não fãs” da princesa.

Opinião Geral: Gostei muito dessa edição que reunem vários contos de Branca de Neve. Alguns bem antigos, com características da linguagem oral a que pertencem, outros com finais trágicos e, ainda o que deu origem ao conto clássico que todos conhecemos através da Disney. Foi uma experiência enriquecedora, especialmente porque possui culturas de vários países do mundo em suas narrativas.

Além disso, o livro conta com uma enciclopédia relacionada aos filmes inspirados no conto, dentre eles alguns conhecidos como “Branca de Neve e o Caçador”, “Espelho, Espelho Meu” e “Branca de Neve e os Sete Anões”, e também alguns pouco conhecidos, que foram se perdendo no tempo por conta da tecnologia.
Há histórias para todos os gostos, até para os que não gostam dessa princesa em específico.