CONTOS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL – LUCIA DO VALLE

Eu conheci a Lucia do Valle pelo facebook em 2014, ficamos amigos por causa do interesse mútuo na Primeira Guerra Mundial, na época eu estava prestes a publicar A Última Poesia – Do Orgulho Nasce a Guerra, o primeiro e único romance sobre a Grande Guerra publicado por um brasileiro. Comentamos o quanto é difícil encontrar livros sobre a Primeira Guerra Mundial no Brasil, que devíamos ser os únicos brasileiros a terem escrito trabalhos literários sobre o assunto, ela também salientou que em breve  publicaria um livro de contos sobre a Grande Guerra.

Sinopse: Tocar o coração de alguém por meio das palavras é grandioso para quem escreve, e fazê-lo pensar criticamente sobre a guerra é como dizer a um filho: isso queima, dói, fere outros, é pecado, é loucura, você vai se arrepender, pare com isso! E ele teima e se machuca; e os homens teimaram e machucaram tanta, tanta gente, que falar em milhões de mortos parece surreal. Assim, para compreender a impessoalidade do que significa milhões é necessário ir para o particular, relatar detalhes, porque são eles que no fazem sentir, são eles que mesclam ficção e realidade.

A autora mistura ficção e realidade para escrever sobre a Primeira Guerra Mundial. Trata-se de contos que envolvem estadistas e o homem comum enfrentando a Guerra. Os contos retratam o período entre 1914 até 1919, quando foi assinado o acordo de paz. Um livro que expressa os sentimentos humanos em situações extremas, como as vividas entre 1914 e 1919. Revolta, dor, angústia, cansaço, pânico e também alegria, misericórdia são destacados com maestria pela autora Lucia do Valle.

Resenha: Há pouco tempo tivemos o lançamento de “O Brasil na Primeira Guerra Mundial – A Longa Travessia” do amigo e historiador militar Carlos Daroz que eu deverei resenhar em breve. Tivemos também em 2014 o lançamento do livro “U-93 – A Entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial” do jornalista Marcelo Monteiro, ainda em 2014 aconteceu o lançamento da fantástica coleção do Estado de São Paulo em oito volumes com capa dura edição de luxo. Ainda bem que passados 100 anos temos farto material sobre o assunto, foi-se a época em que haviam apenas os textos do jornalista Júlio Mesquita Filho, ele cobriu todo o período da guerra de 1914-18 mesmo à distância, as informações eram trazidas em primeira mão, isso graças a vários amigos e correspondentes  que estavam espalhados pela Europa e que lhe escreviam constantemente.

“Na trincheira apertada e de onde se ouvia gritos e murmúrios de dor, o cheiro de pólvora e os corpos sujos da poeira cinza enervavam os homens “Foda-se a pólvora; este maldito gosto amargo!” Disse o soldado cuspindo no chão da trincheira, depois se sentou, aguardando a próxima ordem. Então, veio o gosto do bolo de milho que a avó fazia nas tardes de sábado. Ele enlevou-se tanto que os grãozinhos do cereal pareciam enroscados em seus dentes. De olhos fechados fingia dormir, não demonstrando que sonhava.” p. 58.
“A Grande Guerra foi a guerra das trincheiras, a da terra de ninguém, a que mudou a configuração geopolítica do mundo e que deixou aproximadamente 9 milhões de mortos entre civis e militares”, escreve Lucia do Valle em seu novo livro, “Contos da Primeira Guerra Mundial” (Série Conexão, Editora Estúdio Texto).
Segundo Lucia, falar da Grande Guerra por meio de contos provoca a imaginação. A escritora destaca ainda a carência de literatura sobre a Primeira Guerra. “Acho importante mostrar como era a Europa antes da guerra, durante e depois, até por que pouco se escreveu sobre a Primeira Guerra Mundial”. É visível que a Segunda Guerra tem muito mais livros e filmes, bem como, ouvimos falar bastante a respeito dela. “Espero que ao envolver literatura e história, o livro incentive os estudantes a se interessarem pelo tema”, comenta.
Para a editora-chefe da Estúdio Texto, Ana Caroline Machado, o destaque está na mescla de ficção e realidade e a forma com que a autora trabalha os sentimentos humanos em cada texto. Nos contos sobre as batalhas, a autora optou em não se referir à nacionalidade dos personagens que lutaram no front. “Sofrimento e dor não têm pátria”, diz. “Independentemente da nacionalidade do militar ou do civil, o sentimento era sempre de dor, de luto, de desespero e todos passavam por privações”, analisa a autora.
A inspiração para escrever sobre a Primeira Guerra Mundial surgiu do interesse de Lucia pela história das guerras. “Chamou a minha atenção o fato de, mesmo em períodos de convulsões sociais, há muitos homens obstinados em manter a honra. Como por exemplo, o famoso aviador alemão, conhecido como Barão Vermelho, que após ter seu avião abatido por seus inimigos foi enterrado com honras militares, justamente, porque manteve um código de ética quando o mundo estava desabando”, relata. “Histórias como esta, inspiram-me a procurar nos personagens históricos o lado bom de suas intenções, assim como, os motivos que os levaram também a cometer barbaridades”, completa Lucia.

Opinião: Contos da Primeira Guerra Mundial  tem o trabalho editorial  da Editora Estúdio Texto de Ponta Grossa-PR, a capa é incrível, com orelhas, não encontrei erros de gramática e diagramação, eu trabalho como editor e posso assinar em baixo, também possui ilustrações bem interessantes. A obra contém 110 páginas com 21 capítulos curtos, na verdade 21 contos que abordam desde o início da 1ª Guerra até o Tratado de Paz de Versalhes. A Lucia conseguir fazer o que poucos escritores fizeram; escrever tudo ou muita coisa em poucas palavras, suas frases curtas mostram o quanto ela é talentosa. No livro suas personagens são descritas de tal forma que parece que fomos transportados para aquela época que foi deixada há 100 anos. Só faltou um detalhe para que o livro ficasse perfeito; as páginas deveriam ter sido impressas com papel reciclado de tom amarelado, esse tipo de papel deixa a leitura mais leve evitando o cansaço das vistas.
A data de lançamento, 28 de junho de 2016, foi proposital. Neste mesmo dia, em 1914, o herdeiro do império austro-húngaro Francisco Ferdinando e sua esposa foram assassinados em Sarajevo, na Bósnia, e este foi um dos motivos que desencadeou a Grande Guerra. Além disso, dia 28 de junho de 1919 foi assinado o Tratado de Versalhes, que visava garantir a paz entre as nações.