Enquanto Eu não Te Encontro tem muita representatividade e o cenário nordestino vai deixar muito leitor (não nordestino) ficar desejando conhecer nossa terrinha.
Saudações Leitores!
Enquanto Eu não Te Encontro (2021) é o livro de estreia do nordestino Pedro Rhuas onde a história se passa no nordeste, especificamente em Natal, Rio Grande do Norte, mas não é só este o grande “Às” do volume, mas sim o fato dele ser um livro nordestino cheio de representatividade para a comunidade LGBTQIAP+.
Em Enquanto Eu não Te Encontro vamos acompanhar a história de Lucas que é um jovem universitário gay que divide apartamento com seu melhor amigo Eric, mas enquanto Eric é extrovertido e está em um relacionamento sério com Raul; Lucas vive na fossa se fazendo de vítima por nunca ter estado em um relacionamento antes.
“É muito fácil achar que homem seria remédio para os meus problemas. Isso não é, sei lá, a antítese do empoderamento? Esperar que uma força externa seja a fonte da minha felicidade, que só com alguém ao meu lado eu possa me sentir bem?”
Ambos, Lucas e Eric, estão morando em Natal por conta de terem passado e estarem cursando faculdade lá, mas são provenientes de uma cidade do interior bem conservadora chamada Luna do Norte, então já coloque aí na bagagem desses amigos alguns preconceitos e bullying sofridos, o fato de terem ou não saído do armário e buscarem apoio ao menos dos familiares, já que a sociedade ainda é muito homofóbica. O problema é que a história de ambos não é só flores e isso quer dizer que para terem apoio ou ao menos o respeito da família, muitas águas rolaram.
É nesse contexto que encontramos esses dois: é final de semana, a inauguração de uma nova boate, chamada Titanic, em Natal. Boate que promete ser um grande point e enquanto Lucas pensa que vai sozinho com Eric curtir a noitada, Eric acaba chamando seu namorado, o que deixa Lucas frustrado, mas o grupo vai para a inauguração e é lá que Lucas conhecerá Pierre, um francês, cujo pai é de Natal.
“Pessoas são como icebergs. Navegamos em meio a mares estranhos e desconhecidos, e quando as encontramos, enxergamos quase sempre apenas o superficial. Nos reduzimos a acreditar na imagem evidente, fácil, quando na verdade o visível aos olhos, uma fração ilusória do todo esconde um universo inteiro submerso.”
O que parecia ser uma noite em que Lucas iria ficar de “vela” para Eric e Raul, acaba se tornando a noite mais fenomenal e memorável da vida de Lucas, pois Pierre é tudo o que Lucas sempre sonhou e o mais incrível é que os dois tem uma conexão instantânea muito forte e acabam confidenciando e se abrindo um para o outro, no entanto, ao chegar o fim da noite, Pierre dá seu telefone para que Lucas entre em contato, mas uma série de pequenas tragédias faz com o telefone de Lucas não funcione mais e ele perca o contato de “sua alma-gêmea”.
É muito bizarro essa parte, de certo modo, pois a culpa de tudo foi de Eric e por isso Lucas acaba se distanciando do amigo e inclusive de todos, passando por vários meses de isolamento e vivendo em um certo piloto automático por ter “perdido” o garoto de seus sonhos, de modo que ele já nem sabe se Pierre foi ou não real.
“Temos que ter cuidado com a maneira com que tratamos os outros. Sobretudo dentro da comunidade LGBTQIAP+, quando lidamos com tanta negatividade vindo de fora; quando até amar é um risco… Um risco não só pelos desafios que o amor traz, mas pelas barreiras que a sociedade nos ergue diariamente.”
Nesse momento inicia-se algumas problemáticas de Enquanto Eu não Te Encontro, porque mesmo tentando entender os motivos de Lucas ter se apegado completamente a Pierre em uma única noite, não considero a atitude de isolamento dele e de quase depressão por conta desse romance de algumas horas um motivo realmente grande para suas atitudes grosseiras, de autoexílio, de isolamento. Achei dramático demais, achei que pode não passar uma influência muito boa essa visão de que só existe uma única pessoa que pode nos fazer feliz, ou o fato de Lucas depositar todas as suas paixões em um cara a ponto de deixar de viver os momentos posteriores ao encontro.
“Acho que estamos descobrindo quem somos agora, e quem não somos também.”
Pedro Rhuas realmente tentou ser o mais responsável com tudo o que expôs em Enquanto Eu não Te Encontro, principalmente para quebrar os tabus dos mais conservadores sobre a comunidade LGBTQIAP+ e os motivos da importância de livros com representatividade e todos os estigmas e dores que gays, lésbicas, trans… passam cotidianamente apenas por serem quem são. É impossível não se sensibilizar e entender mais essas vivências.
Porém, mesmo com um romance fofo, não gostei da atitude de Lucas em relação aos desencontros da vida, entendo que pode ser consequências das muitas cicatrizes que o jovem carrega, mas não achei tão legal assim. Também teve outro ponto que me incomodou, mas esse é algo que volta e meia encontro em livros e sempre reclamo: marcas de oralidade que acho injustificáveis e muito erradas em um livro (mas essa é uma opinião pessoal), acredito que existem pontuações e onomatopeias para ajudar a transferir para o papel as emoções sem necessitar de algo como “OOOOOiiiiiiiiiiii”, “AAAAhhhhhh”, “Hmmmmmmmmmmm” “Meeeeeentiraaaa”, realmente me incomoda de ver palavras sendo escritas assim em um livro, vai contra tudo sobre normatização da nossa língua.
Além disso não creio que Enquanto Eu não Te Encontro irá envelhecer muito bem, fico imaginando que daqui a uns 10, 15 anos muitas das inúmeras referências a músicas, artistas e memes de internet vão se perder e o leitor terá que ficar dando um google o tempo inteiro para entender a “piada” e se contextualizar também em relação ao momento histórico-social-político e econômico.
No mais, o livro tem cenas românticas bem interessantes, várias referências a música pop (pra vocês terem uma ideia, Rhuas fez até uma trilha sonora para seu livro com músicas autorais!) e ao contexto político brasileiro de 2016-2017, um linguajar nordestino, uma realidade nossa, temas e críticas sociopolíticas e reflexões pertinentes, então, fica aqui a dica para quem curte livros desse tipo, pois a leitura é rápida e fofa.
“Se eu fosse você, não esperaria demais para lutar pelo que quer”
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