Sinopse Record: Primeiro romance de uma série que contará a história de Alfredo, o Grande, e seus descendentes. Aqui, Cornwell reconstrói a saga do monarca que livrou o território britânico da fúria dos vikings. Pelos olhos do órfão Uthred, que aos 9 anos se tornou escravo dos guerreiros no norte, surge uma história de lealdades divididas, amor relutante e heroísmo desesperado. Nascido na aristocracia da Nortúmbria no século IX, Uthred é capturado e adotado por um dinamarquês. Nas gélidas planícies do norte, ele aprende o modo de vida viking. No entanto, seu destino está indissoluvelmente ligado a Alfred, rei de Wessex, e às lutas entre ingleses e dinamarqueses e entre cristãos e pagãos. (Resenha: O Último Reino – Bernard Cornwell)
Opinião: Alfredo de Wessex, único monarca inglês a receber o título de “O Grande”, carrega consigo uma galeria considerável de feitos dentre os quais, certamente o mais importante, é a de ser o idealizador (alguns classificam como fundador) da Inglaterra como uma nação unificada. O lugar era dividido em diversos reinos, cada qual com suas leis e regulações, e a partir das invasões dinamarquesas começou a sofrer uma dominação impiedosa até que a fúria viking esbarrou no reino de Wessex e em Alfredo. Um capítulo poderoso da história inglesa começou, então, a ser escrito.
Alfredo foi um monarca com visão aguçada, que enxergava não só as necessidades do presente como também projetava o futuro. Dotado de astúcia, ele comandou exércitos para enfrentar por longos anos a sede de dominação dinamarquesa. Mas Alfredo era também um devoto piedoso que se cercava de padres e tinha uma fé inabalável no poder do Deus cristão. Sua cruzada em defesa dos territórios ingleses contra os invasores pagãos, adoradores de Tor, era também uma cruzada religiosa em nome da verdadeira fé e do verdadeiro deus.
Romanceada por Bernard Cornwell, a luta pela formação da Inglaterra e a vida de Alfredo,
O Grande, constituem o cerne de O Último Reino, livro de abertura da extensa série das Crônicas Saxônicas. O reino em questão é Wessex e o narrador é o fictício Uthred, um inglês raptado e criado por dinamarqueses que vai vivenciar os principais acontecimentos lutando dos dois lados. A partir de seus relatos, vamos mergulhar no cotidiano inglês do século nono por planícies destroçadas pela fúria invasora.
A reconstituição de época de Cornwell é impecável e tem a capacidade de transportar os leitores para os palcos de batalhas, os climas de tensão, os momentos amenos, além de trazer conhecimento. Romance histórico, para quem talvez não saiba, é o gênero em que personagens fictícios são mesclados a personagens e acontecimentos reais para se narrar uma história real. Aqui, a formação inglesa e uma galeria de homens que moldaram um dos mais importantes capítulos da história da Grã-Bretanha, é recontada a partir do ponto de vista de um nobre que passa por infortúnios, mas convive no dia-a-dia com os principais atores e acontecimentos da história real.
As invasões dinamarquesas foram impiedosas e quase dominaram por completo a ilha que hoje chamamos de Inglaterra. O Último Reino inicia, portanto, a narrativa de como um monarca, liderando homens guerreiros e não tão guerreiros assim, munidos do poder da fé e da espada, opôs resistência e reverteu a dominação, conseguindo trégua e expulsando os vikings. O Último Reino conta, também, a história de como Uthred perdeu sua família e suas terras e se viu jogado entre inimigos que se transformaram em amigos. O início da formação de uma nação e da formação de um homem. Assim podemos resumir em uma frase esse livro inaugural.
Mais do que batalhas épicas, com muito sangue derramado, O Último Reino traz as interessantes curiosidades do cotidiano de uma época muito distante de nós – o Brasil nem havia sido esbarrado pela esquadra de Cabral. Estilos de vida, crenças, comportamentos sociais. A forma como se davam as relações entre as pessoas e entre os senhores, e como a Igreja mantinha seu poder e influência em todas as decisões. O passeio pela história é um dos grandes trunfos da obra de Cornwell e aqui, em um ambicioso projeto, ele tende a nos encantar com personagens bem construídos em uma ambientação feita em cima de muita pesquisa.
Adentrar n’O Último Reino é percorrer campos de batalha sangrentos e vivenciar lutas de coragem e resistência. É conhecer personagens reais encantadores e se encantar com personagens fictícios. É morte, barbaridades, lealdades, começos e recomeços. Uma história de fé em homens, deuses, ideias e ideais.
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