Sinopse: Com centro na narrativa da viagem de Vasco da Gama até as Índias, Camões conta nesta epopéia a história do povo português, utilizando-se da estrutura clássica do poema épico. “Os Lusíadas” é, acima de tudo, uma declaração de amor de Camões à sua adorada terra lusitana.
Resenha/Opinião: Escrito por um dos maiores nomes da literatura lusófona, o poeta português Luís de Camões (considerado o maior nome do classicismo por muitos), “Os Lusíadas” foi publicado originalmente em 1572, período esse das grandes navegações, época em que Portugal era considerado uma das grandes potências marítimas daquele tempo e estava em plena expansão comercial, bem como dominava boa parte do continente sul-americano. Nesse ano de 2022, aproximadamente 450 anos, “Os Lusíadas” ganhou uma edição de luxo pelo Clube de Literatura Clássica e surgiu a oportunidade de reler esse grande clássico da literatura mundial.
Os Lusíadas é uma narrativa de enaltecimento dos grandes homens/heróis de Portugal, em especial do navegador, explorador e administrador português Vasco da Gama, que algumas décadas antes, na companhia de outros marinheiros, deveria encontrar um caminho pelos mares para chegar até as Índias orientais, algo que ocorreu entre os anos de 1497 e 1499. Ao mesmo tempo, o autor discorre sobre fatos envolvendo grandes vilões daquele tempo.
Aliás, para contar a história do povo português e de Vasco da Gama, Camões inspirou-se na antiguidade clássica, utilizando o poema épica, um gênero poético que faz uso da grandiloquência para contar a história de um povo, algo que podemos conferir em Ilíada ou Odisseia do grego Homero e até mesmo em Eneida, do poeta romano Virgílio.
Ao longo da leitura fica claro que grande parte do poema inicia-se no “In media res” (no meio das coisas, técnica literária em que a narrativa começa no meio da história), ou seja, Camões optou pela ação e acompanhamos a viagem de Vasco da Gama com seus companheiros já em curso para o Cabo da Boa Esperança, lugar esse que servia como ponto para alcançarem a Índia, passando pela costa do continente africano.
Durante a viagem, os lusitanos enfrentam diversas dificuldades e contratempos, muitas delas foram impostas pelos mouros, por alguns povos hostis e outras dificuldades que foram criadas pelo deus Baco, que visa dificultar ao máximo a empreitada de Vasco da Gama e seus companheiros. Não obstante, os portugueses ainda precisam enfrentar um gigante que personifica o Cabo das Tormentas e até mesmo tempestades mortais. Contudo, os portugueses demonstram coragem, eles comprovam o seu valor no mar e fazem prevalecer a fé cristã nas dificuldades.
Apesar da fé cristã do povo daquela época, fica claro a presença da mitologia greco-romana nas interferência cometidas pelos deuses da antiguidade clássica durante a viagem dos portugueses. Essa interferência também pode ser benéfica, pois os marinheiros portugueses são auxiliados pelo deus Marte e deusa Vênus, enquanto são perseguidos por Baco e Netuno. Além disso, o próprio autor em alguns momentos invoca em sua narrativa as ninfas como forma de inspiração. Essas figuras mitológicas são citadas e consideradas criaturas demoníacas em um documento de liberação dado pela inquisição.
Os Lusíadas foi dividido em dez cantos que foram subdivididos em estrofes de oito versos. Aliás, existe uma divisão em partes e são elas: Proposição, Invocação, Dedicatória, Narrativa e Epílogo. Em cada uma dessas cinco partes Camões revela sobre o que versará, pedindo inclusive ajuda para as ninfas do rio Tejo iluminação necessária para contar sobre as grandes aventuras dos portugueses. Camões também dedica a sua obra ao rei D. Sebastião, ao tempo que nos mostra essa fascinante história sobre os heróis das grandes navegações, heróis esses responsáveis pela expansão comercial de Portugal, tudo contado com muito lirismo. Contudo, a narrativa da história fica sob a ótica do grande e famoso navegador português, Vasco da Gama, mas em alguns momentos passa por personagens de menor relevância.
Os Lusíadas é um grande clássico, é um livro canônico e certamente assusta muitos leitores por sua complexidade, ainda que em muitas vezes essa complexidade resida apenas no campo das aparências. Para auxiliar a leitura o leitor poderá realizar pesquisas e também contar com leituras de apoio para facilitar a compreensão, o que vai deixar a leitura mais prazerosa. Esse livro é simplesmente um grande tesouro da língua portuguesa! Recomendo para todos que queiram conhecer um pouco sobre a pátria mãe, mas também pela incrível experiência que é ler esse clássico por essa belíssima edição do Clube de Literatura Clássica.
Deixe uma resposta
Ver comentários